Orientando-se em trabalhos que combinam as tradições marxista e weberiana na análise da estrutura social, o texto estuda a crise brasileira contemporânea como conflito distributivo, envolvendo quatro classes ou estratos (pobres, outsiders, estabelecidos, milionários) definidos a partir de cinco vetores determinantes da desigualdade social: riqueza, posição em contextos hierárquicos, conhecimento, associação seletiva e direitos existenciais. A hipótese orientadora é que a aliança de classes comandada pelo PT trouxe, entre 2003 e 2013, em geral, mais riqueza, conhecimento e direitos existenciais, mas perda de posição para os estabelecidos já que seu poder de excluir outsiders e pobres diminui. A partir de 2014, a crise econômica faz com que todos os grupos percam riqueza, ainda que em proporções distintas. Ao mesmo tempo, as investigações sobre corrupção desarticulam as associações seletivas dos milionários com políticos e o estado. Diante deste quadro, o arranjo distributivo entre capital, trabalho assalariado e estado estabelecido pelo PT em 2003 (o "lulismo") perde sua sustentação na esfera pública e no âmbito parlamentar, culminando com o afastamento de Rousseff. Seu sucessor, Temer, reajustou, sistematicamente, o arranjo distributivo em favor do capital. O novo governo conduzido pelo político de extrema direita Bolsonaro segue na mesma linha.
Focusing on works that combine Marxist and Weberian traditions in the analysis of social structure, this article addresses the present-day Brazilian crisis as a distributive conflict, involving four social classes or strata (the poor, outsiders, the well-to-do, and millionaires) defined from five determinant vectors of social inequality: wealth, position in hierarchical contexts, knowledge, selective association and existential rights. The guiding hypothesis is that the PT-led alliance between 2003 and 2013 was able to increase the overall level of wealth, knowledge and existential rights, but the established lost positions given their diminished capacity to exclude outsiders and the poor. Starting in 2014, the economic crisis caused all groups to lose wealth, albeit in different proportions. At the same time, investigations of corruption threw the selective associations between millionaires, politicians and the state in disarray. In view of this situation, the distributive arrangement among capital, wage labor and the state established by the PT in 2003 lost its support in the public sphere and at the parliamentary level, culminating in the removal of Dilma Rousseff. The adjustments introduced by Temer have so far had the clear sense of reforming the distributive arrangement in favor of the upper strata.